domingo, 24 de maio de 2015

não sei bem quando comecei a me interessar pelos dramas femininos, mas creio que minha mãe teve uma grande dose de "culpa".


QUANDO DESCOBRI O SOFRIMENTO FEMININO.

Olha, não sei bem quando comecei a me interessar pelos dramas femininos, mas creio que minha mãe teve uma grande dose de "culpa". 

Quando eu era pequeno, com seis, sete anos de idade, minha mãe adorava me levar com ela para um salão de uma cabeleireira perto de casa. Ela me deixava sentando em um canto, sem ter o que fazer, quase morrendo de tédio. Eu odiava aquilo, queria ficar na rua, brincando com meus amigos, mas ela me arrastava e me jogava naquele "antro de lamentações femininas".

E eu ficava lá...

Como como não tinha o que fazer, eu pegava as revistas femininas que ficavam jogadas e cima de uma mesinha de centro, e começava a ler um por uma, contando os minutos para minha mãe ir embora. Só que eu descobri que minha mãe não ia lá só para se arrumar, mas para saber as últimas noticias da vizinhança.

E foi lá, no salão daquela cabeleireira, mal conseguindo respirar em meio ás nuvens de laquê, cheiro de esmaltes, acetonas, tinturas e dos secadores de cabelos - que eram imensos e barulhentos-  que eu recebi meus primeiros ensinamentos sobre relacionamentos amorosos. 

Lógico, elas ficavam receosas de contar certos detalhes picantes na frente de um menino, mas depois de um tempo nem se lembravam mais da minha presença. Então elas falavam abertamente e eu eu, um menininho de seis anos, comecei a aprender sobre os dramas das traições e sobre as surras que os maridos davam em suas esposas. E apesar se viver em uma época onde a violência doméstica era tratada com algo natural, um mero castigo para esposas que mereciam apanhar, eu me revoltava com tudo aquilo, pois sabia que nada podia justificar um homem espancar sua esposa.

Eu apanhava da minha mãe quase todos os dias, por isso eu podia entender a dor daquelas mulheres.

Aliás, nessa época era comum as mulheres espancadas passarem um tempo trancadas em casa até os hematomas sumirem, igual acontecia comigo, que muitas vezes faltei às aulas para ninguém ver as marcas de espancamento no meu corpo.

E o que dizer das mulheres desquitadas, então? 

Naquela época ainda não havia divórcio no Brasil, só desquite. Então, para definir a moral de uma mulher bastava falar : "ela é desquitada". Bastava isso. Não importavam os motivos, pois uma mulher direita jamais poderia se separar. Minha mãe nunca foi de ligar para isso, tanto que meu pai morria de ódio por ela insistir em ter amigas desquitadas.

Mas é claro que a imensa maioria das mulheres tratava as desquitadas quase como leprosas. Quantas vezes eu vi mães de amiguinhos meus que não os deixavam ir em festas de aniversário "do filho da desquitada".

Realmente, mulheres nem sempre são as melhores amigas das mulheres.

Sempre estudei em colégios católicos, onde a disciplina era total. 
Só que eu sempre fui meio contestador. Sabe como é, enquanto as outras crianças achavam normal o estória de Caim e Abel, eu preferia uma explicação lógica: 

"Peraí...Como é que Caim foi banido e todo mundo foi proibido de dar abrigo ,água e comida para ele, se só tinha o Adão, a Eva e o Caim??" 

Pronto, começaram minhas diferenças com as religiões...

Não que eu fosse um ateu - muito pelo contrário, eu só não aceitava que Deus, com todo seu amor, poderia classificar as mulheres como seres de segunda linha. E foi por isso que com 13 anos de idade eu deixei de ser católico e nunca mais quis saber de nenhuma outra religião. 

Mulheres não são seres inferiores que já nasceram marcadas à ferro como impuras. 
Não, definitivamente, mulheres não são serpentes colocadas na Terra para tentar os homens com seus corpos lascivos e suas línguas bifurcadas, que proferem entre um sibilo e outro, palavras doces, mas ardilosas.

E eu também namorava as chamadas "biscates", "galinhas", "vagabundas".
Meu pai ficava puto da vida, tentava me dar lições de moral sobre o tipo de mulher que eu deveria namorar, mas eu sempre o deixava falando sozinho. Então ele reclamava com minha mãe, que vinha com uns papos de "mulher certa e mulher errada", e ela também ficava falando sozinha. 

E sabe por que elas eram biscates? 

Porque fumavam, falavam o que pensavam, usavam vestidos curtos, e algumas até tinham cara de maconheiras. 

Só que eu também tinha cara de maconheiro!!!
Eu nunca me meti com maconha ou cocaína, mas era maconheiro. 
Noventa por cento dos meus amigos fumavam e cheirava carreiras de coca, mas as mamãezinhas deles achavam que eu era o Junker do pedaço.   

Mas o que me fez mudar totalmente minha maneira de encarar o sofrimento feminino aconteceu por causa de uma tia, que morreu de tanto beber porque não aceitava viver longe do ex-marido. No começo eu que ele era o culpado por ela ter se afundado tanto. 

Mas eu era um moleque de 16 anos, não entendia que escolha de sofrer era dela. 

Pombas, eles estavam separados há vários anos, e em vez dela seguir adiante, preferiu uma vida de beber até cair. Quantas vezes eu a vi jogada no chão de sua casa, bêbada, muitas vezes suja, toda urinada, chorando sem parar...

Ela era uma mulher bonita, elegante, cheia de vida, mas morreu para o mundo no dia em que o marido saiu de casa...

Por isso que eu me irrito com gente que se diz apaixonada, que lambe o chão e acha que é por amor, porque para mim o amor não pode ser ofendido por atitudes tão ridículas!! Odeio sim, mulherzinhas, as eternas coitadinhas que vivem como carpideiras, lamentando o amor de um homem que está muito mais feliz longe delas.

Odeio gente que sofre e se recusa a lutar contra a dor.

Lutar seria correr o risco de vencer, livrar-se de uma dependência, mas eu descobri que muitas jamais abririam mão da dor que as motivam. Sim, estou cansado de tentar ajudar mulheres que reclamam, que sofrem e juram que nunca correrão atrás de um homem, mas basta uma simples esperança e elas largam tudo e voltam a se humilhar.

Aliás, a melhor coisa que aprendi observando o mundo é que a pior coisa que se pode fazer é tentar convencer alguém que vale a pena nos amar.


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Um comentário:

Unknown disse...

Muito interessante, agradeço a iniciativa. Eu fico imaginando como, mesmo sendo homem, você pode se casar com alguém e trata-la como se não tivesse nenhum valor. Como você pode transar com alguém sem nenhuma afeição e "ficar de boa"? Por mais que eu estivesse com vontade (imagino, se eu fosse homem)
, transar sem 'querer o outro bem' é quase como ignorar os meus próprios sentimentos, eu perco a vontade. Como os homens conseguem ignorar a melhor coisa que a vida tem para oferecer: amor?! Hoje eu entendo, a nossa sociedade não foi feita para cultivar a paz, muito menos o amor. É a lei do mais forte, ainda. Porque as mulheres usam maquiagem, e ficam horas se cuidando?? Não é humilhante ter que fazer isso para se sentir bem consigo mesma?! Não apenas os homens mais as mulheres são 'treinadas' para serem sub-ser humano. Porque essas mulheres que eram espancadas pelos maridos simplesmente não batiam neles de volta, se eles morressem 'por acidente' ainda seria considero legitima defesa! Só porque é religião, ela não tem direito de difamar as mulheres. Religião não é ciência, quem vai provar tudo isso? É difícil imaginar um mundo que mais importante do que pensar em termos de "homem/mulher", pensar em "ser humano". Eu nunca quis ser mulher, não me orgulho disso. Só de pensar que se algum homem quiser me bater, eu tenho que ficar quieta para não "provoca-lo", já sinto vontade de começar a briga. Só porque sou mulher não quer dizer que aceito ser passiva, toda mulher deveria portar uma arma. Já é mais que obvio que as mulheres valorizam a paz + do que os homens, sempre foi assim. Eu não gostaria de ser tratada "mulher", mais acima disso, valorizada como ser humano. O mundo ainda não conhece o que uma mulher de verdade, ainda estamos nas sombras do que restou da ditadura masculina. Muita coisa vai mudar quando o potencial feminino for posto no seu devido lugar.

O VÍCIO DA ILUSÃO